Um testemunho: Álvaro Cunhal

A consagração<br> das conquistas da Revolução

Ca­ma­radas, eu peço des­culpa de ter che­gado tão tarde a este mag­ní­fico co­mício. Mas a razão é sim­ples. Tive oca­sião de, como re­pre­sen­tante do nosso par­tido, as­sistir à sessão da As­sem­bleia Cons­ti­tuinte onde foi pro­mul­gada a nova Cons­ti­tuição. Trata se de um acon­te­ci­mento ver­da­dei­ra­mente im­por­tante na re­vo­lução por­tu­guesa, acon­te­ci­mento im­por­tante para a con­so­li­dação da nossa de­mo­cracia. As forças re­ac­ci­o­ná­rias fi­zeram tudo, so­bre­tudo nos úl­timos tempos, para im­pedir a apro­vação e a pro­mul­gação da Cons­ti­tuição ac­tual. Porque viram que a Cons­ti­tuição, no fim de contas, não cor­res­pondia àquilo que elas que­riam que fosse, mas, pelo con­trário, con­sa­grou as li­ber­dades e as con­quistas fun­da­men­tais da Re­vo­lução. Con­si­de­ramos por isso que é le­gí­timo con­si­derar a Cons­ti­tuição agora apro­vada e pro­mul­gada como uma con­quista das forças re­vo­lu­ci­o­ná­rias por­tu­guesas, do nosso povo, dos mi­li­tares do 25 de Abril.
(...)

Em de­fesa das li­ber­dades

Nós, co­mu­nistas, temos sido muito ata­cados por al­guns ca­lu­ni­a­dores que dizem que o Par­tido Co­mu­nista não quer as li­ber­dades. Mas, nos anos duros da di­ta­dura fas­cista, quando al­guns que hoje não apro­varam a Cons­ti­tuição, mas que apro­varam talvez a Cons­ti­tuição de 33, es­tavam na As­sem­bleia Na­ci­onal fas­cista ao abrigo da Cons­ti­tuição de 33, quando esses ele­mentos que hoje se dizem de­mo­cratas apoi­avam a di­ta­dura fas­cista, era o nosso par­tido, eram os co­mu­nistas, que à frente do povo, à frente da classe ope­rária, lu­tavam não pelas li­ber­dades para eles, co­mu­nistas, mas pelas li­ber­dades para o povo por­tu­guês. Os co­mu­nistas não têm que re­ceber li­ções de nin­guém no que res­peita à luta pelas li­ber­dades. Nós de­fen­demos um re­gime com as mais am­plas li­ber­dades, lu­tamos para que no nosso país todos os por­tu­gueses possam ex­pressar a sua opi­nião, todos os por­tu­gueses se possam or­ga­nizar, todos os por­tu­gueses se possam ma­ni­festar, se possam reunir, possam ter uma im­prensa livre, sem cen­sura prévia. Nós de­fen­demos que haja li­ber­dade sin­dical. que haja o di­reito dos tra­ba­lha­dores se or­ga­ni­zarem, que haja o di­reito de ma­ni­fes­tação e o di­reito à greve. Nós de­fen­demos que haja li­ber­dade re­li­giosa e que todos aqueles que têm uma re­li­gião a possam pra­ticar sem qual­quer in­ge­rência ou in­ter­fe­rência es­tranha. Somos de­fen­sores da li­ber­dade, lu­tamos pela li­ber­dade. Tal como no pas­sado, tal como hoje, em quais­quer con­di­ções es­tamos sempre prontos a lutar pelas li­ber­dades.

(Ex­certo do dis­curso de Álvaro Cu­nhal, pro­fe­rido de im­pro­viso, no co­mício do PCP em Odi­velas, no dia 2 de Abril, data em que a As­sem­bleia Cons­ti­tuinte pro­mulgou a nova Cons­ti­tuição)



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